segunda-feira, 8 de outubro de 2012

«GALEOTA PEQUENA»



Esta embarcação -guardada em impecável estado de conservação no nosso esplêndido Museu de Marinha- é também conhecida pelo nome de «Galeota de D. José I», pelo facto de ter sido planeada e construída para esse monarca da 4ª dinastia pelo Arsenal da Ribeira das Naus, em Lisboa. Com risco de Manuel Vicente (nomeado pelo rei primeiro-construtor da referida instituição, com honras e regalias de capitão-tenente da Armada), este bergantim notabiliza-se pela beleza das suas linhas e pelos ornamentos em talha trabalhada ao estilo dito de D. José. Esta embarcação, que se movia graças ao saber de 1 patrão e de 1 cabo proeiro e ao esforço físico de 52 remadores, dispõe de uma luxuosa camarinha (onde tomavam lugar o rei e os membros mais chegados da sua família), com «sobrecéu colorido e (…) cortinados de seda com borlas douradas». Os assentos estofados são de grande conforto e franjados de ouro, ao gosto do tempo. As decorações externas desta galeota, destinada aos passeios fluviais da família real, são de uma grande beleza, delas se distinguindo as magníficas sereias que enfeitam os dois bordos da proa. Em consequência da implantação da República (e também da falta de sensibilidade para salvaguardar as obras de arte do passado), a ré –aonde figuravam as armas do Reino de Portugal- foi modificada. Segundo os entendidos, essa transformação quebrou a unidade escultórica inicial, desfavorizando a obra no seu todo. Ainda assim, esta embarcação é uma das mais preciosas peças do Museu que a conserva. Parece que a chamada «Galeota Pequena» foi muito apreciada pela rainha D. Mariana Vitória (esposa do «Reformador»), que até a terá usado com maior frequência do que o próprio marido. A soberana deslocava-se amiúde até Pedrouços, onde ia assistir às festas religiosas realizadas pelas freiras dominicanas do convento local. Esta embarcação também foi solenemente usada, em 1764, nas cerimónias de despedida do conde de Lippe, general alemão que modernizou e comandou os exércitos de Portugal. Em finais do século XIX e inícios da centúria seguinte, a «Galeota Pequena» foi, igualmente, a embarcação preferida da rainha D. Amélia nas suas deslocações pelo estuário do Tejo. Este bergantim foi utilizado pela derradeira vez pela casa real no dia 1º de Outubro de 1910, aquando da visita oficial ao nosso país de Hermes da Fonseca, presidente do Brasil, transportando-o do navio de guerra que o trouxe a Portugal até ao Cais das Colunas. Após a queda da dinastia dos Braganças, a «Galeota Pequena» passou para o serviço oficial da República (daí as tais infelizes transformações), servindo nas cerimónias de recepção ao Dr. António José de Almeida depois do seu regresso do Brasil em 1922; no acolhimento triunfal (também nesse ano de 1922) feito aos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral; e, pela última vez, antes da sua merecida reforma, em 1923, no transporte do presidente Manuel Teixeira Gomes (regressado do Reino Unido), entre um cruzador britânico e a terra firme da capital portuguesa.

Sem comentários:

Enviar um comentário