quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

«CLOTILDE»


Navio negreiro de bandeira norte-americana. O «Clotilde» era uma escuna com cerca de 30 metros de comprimento fora a fora por 7 metros de boca. Foi o último veleiro registado nos Estados Unidos a dedicar-se ao comércio de escravos entre o continente africano e as Américas. Essa derradeira e infame viagem começou a 15 de Maio de 1859 no porto de Uidá (a antigo S. João Baptista de Ajudá, que os Portugueses fundaram no Daomé) e terminou (segundo as fontes mais credíveis) no Outono do mesmo ano em Mobile Bay, no Alabama. Lugar onde foram desembarcados perto de 150 escravos. A interrupção deste desumano negócio teve a ver com a explosiva situação política reinante nos ‘states’ entre os abolicionistas e os esclavagistas. Situação que iria conduzi-los à chamada Guerra de Secessão, que rebentou em 1861. No decorrer dessa histórica viagem, a escuna «Clotilde» (também referida, por vezes, com o nome de «Clotilda») foi comandada pelo capitão William Foster, que trabalhava para um homem de negócios sulista de nome Timothy Meaher; que, curiosamente, também era o proprietário dos estaleiros de Mobile que construíram (em 1856) o veleiro em apreço. Disse-se, à época, que esta derradeira viagem com escravos resultou de uma aposta feita pelo referido armador, que garantiu ser capaz de contornar uma lei que proibia a importação ilegal de mão-de-obra africana. E sabe-se que, com medo das consequências, Foster, incendiou o «Clotilde», logo após a sua chegada aos Estados Unidos e de ter procedido ao desembarque dos cativos. Libertados depois da vitória dos Federais em 1865, os sobreviventes da escuna reuniram-se num aldeamento chamado Africatown, que eles próprios edificaram nas proximidades de Mobile. Um desses escravos  ganhou alguma fama –com o nome americanizado de Cudjo Lewis- quando, em 1927, foi entrevistado e filmado pela conhecida escritora afro-americana Zora Neale Hurston; à qual ele chegou a contar (apesar da sua avançada idade) a história da sua captura e da sua venda e transferência para os Estados Unidos. No Alabama há, ainda hoje, vários descendentes de Cudjo Lewis, que faleceu em 1935 com a idade presumível de 94 anos. Uma estátua foi-lhe erigida em Africatown pela Igreja Baptista (da qual fez parte) e o lugar onde viveu é considerado de interesse histórico. Quanto à escuna «Clotilde», refira-se que os seus restos (se ainda existirem) continuam a ser alvo de pesquisas arqueológicas na baía de Mobile. Nota : a ilustração anexada não representa o «Clotilde», mas, tão só, uma escuna com desenho (provavelmente) similar ao do veleiro em apreço.

1 comentário:

  1. Olá,
    Sou tradutor de inglês e estou com uma dúvida náutica: queria saber a que equivale em português o termo "full-bellied hull". É um tipo de casco de navio, mas não consigo determinar qual. Este texto http://www.shipmodelersassociation.org/research/fam0201.htm?id_sma=0826SMA183349 menciona que o Aemilia (sobre o qual você escreveu) seria um barco com full-bellied hull. Aqui há outra menção: http://modelshipworld.com/phpBB2/viewtopic.php?t=5609&start=10&sid=0086e1247a36ef6aacdd14b4c82ca9fe . Pode me ajudar? Meu e-mail é ericoassis@gmail.com . Grato pela atenção.

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