sábado, 7 de fevereiro de 2015

«INDIGIRKA»

Navio de bandeira soviética, cuja história carrega o peso de uma dupla e descomunal tragédia. Antes de usar o pavilhão vermelho da U.R.S.S., Este navio hasteou as cores do Estados Unidos da América e esteve registado, nesse país, com os sucessivos nomes de «Lake Galva», de «Ripon», de «Malsah» e de «Commercial Quaker». Foi construído em 1919 nos estaleiros Manitowoc Company, no estado de Wisconsin, para a navegação nos Grandes Lagos. Pertenceu à classe de cargueiros polivalentes 'Lake', que apresentavam uma arqueação bruta de 2 689 toneladas. As suas dimensões eram as seguintes : 77,30 metros de comprimento por 13,30 metros de boca. Este navio estava equipado com uma máquina a vapor de tripla expansão, que lhe garantia uma velocidade máxima de 10 nós. Em 1938 -quando tinha Nova Iorque como porto de registo e ostentava as cores da companhia Moore and McCormick- foi vendido (com a devida autorização governamental) à União Soviética; que lhe deu o nome de «Indigirka» e que o integrou na frota da Dalstroi, uma identidade estatal que 'imperava' sobre uma vasta região da Sibéria oriental, com autoridade (entre outras coisas) na exploração das riquezas mineiras locais e na contratação e controlo da mão-de-obra necessária às suas actividades industriais. A Dalstroi utilizou, sobretudo, prisioneiros de opinião (ou condenados por outros 'crimes' políticos), desterrados para aquelas longínquas paragens pelo regime de Estaline. Adaptado às suas novas e dramáticas funções, o navio em apreço podia transportar -para além da sua carga mercantil- perto de 1 500 prisioneiros por viagem; prisioneiros que eram recolhidos em Vladivostock -terminal da ferrovia transiberiana- e encaminhados pelo «Indigirka» até vários portos de destino, espalhados por todo o mar de Okhotsk. As condições de transporte eram tão peníveis, que muitos dos prisioneiros morreram miseravelmente a bordo. O «Indigirka» -navio de triste memória- teve um fim trágico : naufragou, em consequência de uma tempestade, no dia 8 de Dezembro de 1939, entre os portos de Magadan e de Vladivostock, quando tentava transpor o estreito de La Pérouse. O naufrágio do navio-prisão foi precedido de encalhe perto de Sarufutsu, na costa japonesa. Das cerca de 1 000 pessoas que partiram do porto de Magadan -e entre as quais se encontravam 39 tripulantes, algumas dezenas de passageiros civis e 835 prisioneiros com habilitações técnicas, chamados por Moscovo para participarem no esforço armamentista de uma guerra que se avizinhava- só sobreviveu uma trintena. Entre as quais se encontrava o capitão do navio. Que, posteriormente, acabaria por ser julgado, considerado culpado da ocorrência e fuzilado pelas autoridades moscovitas. Um monumento foi erigido, à memória das vítimas deste medonho naufrágio, no sítio onde se consumou a tragédia.

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